É Ele quem decide sempre; se vai ou não, nos atender! Com respeito;
podes falar-lhe o que quiser, porém, nunca manipula-Lo. Entenda mais! Havia
dado uma mega chuva em Valadares nessa época e alguns bairros ficaram com casas
debaixo d’água e a casa da minha matriarca foi uma delas. Resumindo essa
história.... Morava nessa época perto de minha mãe biológica e ela passou a
noite em minha casa. Quando as águas abaixaram, fui a sua residência e vi um
lindo cachorro bege claro de olhos verdes - chamado de “Mato grosso”,
escadeirado; deitado em um barro - cheio de moscas pelo corpo e parecia até
chorando com todo aquele sofrimento que passava. Fiquei penalizada por ele. Não
tinha como ajuda-lo. Então, foi a primeira vez que me peguei orando por um
animal.
“Senhor Deus, esse cachorro está sofrendo demais; por favor, o cure ou
o faça descansar o sono da morte.” Fui embora.
À noite, minha mãe apareceu para dormir e estava até com os olhos
inchados de tanto chorar. O que foi mãe?
“Fui a minha casa e o meu cachorro, o mato grosso está morto. Eu tinha
ido comprar remédio para ele.”
Mãe, ele estava sofrendo muito em vida. Eu fui lá e o vi em meio as
moscas.
“Você o viu? Foi lá?” sim, fui! Orei por ele assim e assim.....
“O que? Você não podia ter feito isso. Eu amava aquele cachorro. Você
orou para ele morrer.” Aí ela foi para um canto chorar mais e eu me senti muito
mau com aquilo.
Aprendi muitos anos depois que por amor “egoísta”, as vezes; a gente
suplica a Deus para deixar sobreviver aqueles que amamos - mesmo que estejam em
terríveis sofrimentos. Só porque não queremos perder o contato com o vivo para
a morte.
Minha mãe deu falência dos rins por ser hiper tensa e se recusar a
tomar a medicação. Também tomava diclofenaco de sódio que o especialista me
disse que nem receitava mais por ele acelerar a paralisia dos rins. E fora, que
ela tinha uma alimentação inadequada. Quando ficou crônico os seus rins e teve
de dialisar; foi um sofrimento terrível para os filhos que a amavam.
Um dia, meu irmão e eu; a levamos para o hospital, e o médico depois
dos exames me chamou e disse que ela tinha no máximo duas horas de vida, se não
fizesse a hemodiálise. É claro que aquela notícia foi um choque para mim ouvir.
Não aceitei sua morte e comecei a orar por sua vida e pedi aos meus amigos do
grupo de oração no watts zap que intercedessem também.
Note! Eu não pedi ao Senhor para cura-la ou faze-la dormir o sono da
morte, como fiz com o cachorro, anos antes. Não tive coragem de fazer esse
pedido! Porque tinha medo de ser essa a vontade do Criador. Ela era minha mãe!
Sabia que tinha pavor de morrer.
Enquanto estava pele e osso na UTI; respirando através de maquinas e se
alimentando através de sondas; o médico me pediu autorização para desligar as
maquinas, mas não autorizei. Na hora da visita, eu cheguei bem perto de seu
ouvido e cantei diversas vezes bem baixinho a música do pai nosso, viva
esperança e confiei no meu Senhor. Depois falei-lhe:
“Mãe! Tenha fé. Lute. Ore em sua mente. Deus é poderoso para te tirar
dessa situação. Estamos aqui cuidando de você.”
Chorei bastante e quando enxuguei as lágrimas e olhei para ela, estava
tentando abrir os olhos.
De duas horas de vida dadas pelo médico; Deus transformou em um ano,
dois meses e dezessete dias - por causa dos nossos clamores. Mas, um dia,
simplesmente - percebi o quanto que ela estava sobrevivendo em
sofrimento.
Ela tinha tanto medo de morrer, que passava a noite lutando para não
dormir. Não podia se alimentar de noventa e cinco por cento do que gostava,
fazia hemodiálise de dezessete horas até as vinte e uma horas. Eram muitos
e nítidos os sofrimentos em seus olhos. Emagreceu trinta e cinco
quilos, estava precisando de pessoas para lhe dar o banho, usando fraldas
descartáveis, parou de falar e sobrevivia apavorada com medo de morrer com
crise de pânico.
Meu coração se entristeceu muito de vê-la sobrevivendo em terrível
desespero e tomei coragem e orei.
“Deus! Não quero que minha mãe morra! Mas, não suporto mais vê-la em
tão grande sofrimento dia após dia. Sei que ela procurou essa enfermidade e Tu
não és obrigado a cura-la. Mas sei que podes sara-la se quiser. Caso, não
pretenda cura-la; prepare-a e a mim também, porque Tú sabes que esse é o meu
maior temor.”
Como menciono no início dessa reflexão; a gente pode falar para Deus
tudo quanto está agitando o nosso ser. Mas não tem como prever o que Ele irá
fazer. Isso não depende de fé e sim da vontade dEle - quando nos entregamos ao
Seu querer.
Foi muito difícil para mim, me render do “egoísmo” e fazer aquela
prece. Deus me acalmou e me fez esquecer dessa situação por uns dias. Eu ia a
sua casa duas vezes por semana. Havia uma escala de cuidados com ela e cada
irmão tinha o seu dia de auxilia-la. Mas foi nessa semana que acabei indo lá de
segunda-feira a quinta-feira. Levei as coisas que ela apreciava comer. Meus
irmãos também fizeram coisas que ela gostava de alimentar. E meu irmão Aroldo
que era o mais agarrado a ela, esteve na minha casa domingo à noite após o
culto e me disse que iria leva-la para morar com ele. Pensei que saindo de
minha casa ele iria embora, mas foi até a casa de nossa mãe e lhe deu um banho;
colocou roupas limpas, penteou-lhes os cabelos e lhe passou até perfume.
Depois, deu-lhe um beijo e foi embora. Nossa irmã Maria Neide chegou e foi
dormir com ela.
Na segunda-feira sai e minha irmã Adélia me ligou dizendo que nossa mãe
havia ido para o hospital passando mau. Sai para um compromisso e de lá liguei
mais de oito vezes para o rapaz que pagávamos para acompanha-la na hemodiálise.
Ele não atendia as minhas ligações. Fui ficando agoniada! Dei um tempo e liguei
de novo. Aí ele atendeu.
“Oi, ..... como esta minha mãe? Vou pra aí.”
“oi Anália, sua mãe morreu.”
Foi assim que ele me deu a notícia que sempre fugi de ouvir.
A sensação que tive foi a de uma dor terrível no peito. Seguida de
copiosas lagrimas e da sensação de que uma parte de minha pessoa havia se
apagado, ficado um buraco negro, morrido. Havia sido retirado algo de mim.
Tipo, quando se pega uma folha e a rasga pelo meio. Por mais que tente
descrever é uma dor inexplicável!
Os piores momentos da morte para mim é quando alguém te diz: “ .....
faleceu. O segundo é quando você vê a pessoa falecida. O terceiro é quando se
enterra. E o quarto é a saudade.
Organizei e digitei a programação de seu culto fúnebre. Chamei o meu
filho Jônatas, o amigo Igor e o Derick para fazer o louvor congregacional. Fiz
lhe uma homenagem falada na igreja, mesclando suas qualidades e erros. Afinal,
é surreal achar que ninguém lembra dos erros de uma pessoa, só porque está
morto. Todos erram. Ai o pastor da época fez o culto. Enquanto ele ministrava,
o Espirito Santo me disse:
“Pede a equipe de música para cantar mais um hino
congregacional.”
Era o hino do hinário Adventista Não desistir.
“Dias há, bem sei, em que triste te sentes, sem ter esperança e prazer,
mas existe alguém que promete ajudar-te. E forças à alma trazer. Coro: Não
desistir! Cristo vem logo! Breve a aurora há de raiar! Não desistir! Cristo vem
logo! Não desistir! Ele virá! Este mundo, eu sei, já não vai muito longe, e o
mal vai breve findar. Minha fé em Deus, sim, está bem firmada: Jesus logo vai
regressar.”
Pedi aos rapazes do louvor para canta-la e fui ao sonoplasta passar as
novas coordenadas. Assentei-me no banco e avisei ao pastor que teria mais um
hino antes do cortejo. Mas aí o Senhor Deus me disse também:
“Filha, vá cantar junto com a equipe de música.”
Senhor, não consigo; é o funeral da minha mãe. Não posso cantar!
“Filha, vá cantar.”
Ok, dá-me mais forças.
Os três jovens já estavam no altar com os microfones em mãos. Fui até
lá e cantei por fora, enquanto chorava por dentro. Estava triste com a morte de
minha mãe, mas grata ao Senhor por tudo de bom que havia feito na vida dela.
A vida é cheia de injustiças e sofrimentos; ninguém escapa. Cada
pessoa é de um jeito; eu quando passo por lutas, sou muito sensível no
sofrimento. Tipo; eu sofro muito, até conseguir digerir a situação sobrevivida,
tirando lições. Eu choro muito, angustio, aí fico com dores pelo corpo.
Reflexos da angustia. Mas em momento algum eu paro de orar por mim e pelos
envolvidos na história, pedindo por justiça Divina - fazendo com que a verdade
apareça.
“Senhor......me fez muito mal. Sofri muito com as acusações levianas,
as perseguições por inveja, as ingratidões. Mas, eu os perdoo; assim como
já fui muito perdoada. Não quero que paguem pelo mal que me fizeram. Eles
já sofrem muito com as consequências de seus pecados. Me dê paz e saúde como
justiça. E não os deixe ser usados pelos demônios para me perturbar mais,
impedindo-me de fazer a Tua obra.”
É assim que oro para os muitos inimigos que vire e mexe satanás levanta
para me perseguir. Eu os isentei de pagar pelo mal que me fizeram, mas é Deus
quem decide como aplicará a justiça em cada caso que julga.
Deus sabe o que é melhor para nós. Mesmo que tenhamos muito medo de
entregar nossas vontades a Ele. O Criador é quem decide sempre; se vai ou
não, nos atender! Com respeito; podes falar-lhe o que quiser, porém, nunca
manipula-Lo. Msgrª de louvor e pregadora - Anália Calixta