Já desejei ter sua beleza. Já desejei ter sua coragem. Mas, herdei um
pouco de sua fé perseverante. A dor da separação consiste em não mais poder
ouvir e nem falar com quem se ama. Dar e sentir um abraço. É um ciclo de vida
findando. São sonhos, sorrisos de uma pessoa enterrados. Como isso doe. Quanto
mais envolvidos emocionalmente com uma alma vivente, mas se sofre quando vem a
separação da morte, aliás só o pensamento da morte já traz dor. Minha mãe Yraci
nunca gostou nem de falar em morte. Há 50 anos chorava no dia da morte da mãe
dela minha avó Ana Calixta.
Diversas vezes me disse que minha avó havia morrido de câncer em casa
- sofrendo muito e ela cuidou até o último suspiro de sua mãe. Não entendia ao
certo o porquê de sempre estar me recontando essa história, agora penso que
estava tentando me dizer:
“Se eu ficar muito enferma um dia, cuidem de mim como eu cuidei da avó
de vocês. ”
Minha mãe tentou ser a melhor mãe que ela sabia ser. Não teve carinho,
conforto, diálogo em sua infância e sua prole infelizmente também não o teve. O
que nos ensinou foi a ter fé, trabalhar, sonhar, trabalhar a exaustão se
preciso, economizar, persistir, investir e ser honestos trabalhando. Morei com
ela segundo os planos do Senhor até aos oito anos de idade. Fomos distantes
emocionalmente por muito tempo, mas a amava.
Quando adolescente as vezes ia visitá-la sonhando em chegar à sua casa
e dar-lhe um grande abraço, dizer que a amava, deitar em seu colo, sentir suas
mãos me fazendo um carinho no rosto, mas não conseguia fazer isso. Havia uma
barreira entre nós que nenhuma das duas conseguia transpor. Ela tentava
demonstrar o amor de outras formas; tipo, sabia que gostava de peixe, as vezes
mandava para mim na casa da família Novais aonde morava uma vasilha com peixe.
Com o passar dos anos, a vi tentar expressar carinho com os netos - que
considerava como seus segundos filhos a seu modo de amar.
O tempo nos aproximou mais, e passei a ter muito medo de perdê-la para
a morte. Diversas vezes nesses 71 anos de idade dela - intercedi diante do
Senhor e Ele ouvindo meu clamor a manteve entre os filhos e netos. Obrigada
Senhor.
Cumprindo o desejo dela saiu da UTI assim que melhorou um pouquinho.
Conversei com a medica Nefrologista e ela me disse:
“Vou dar alta a sua mãe porque ela não quer viver. ” Essa era a ideia
que os enfermeiros e medidos desenvolveram dela de Platão a plantão.
Doutora, ela ama viver. Está se recusando a fazer a hemodiálise por
medo de morrer. Disse-lhe que se dependesse dos filhos ela já estaria se
tratando a tempos. Chorei um muncado e creio que a médica entendeu.
Quinta-feira era meu dia de dormir com ela em sua residência; notei que
ela não conversava, não respondia ao que perguntávamos e passou a madrugada
gemendo de dores. Fui limpá-la com sua neta e descobri que seu útero está
descendo. A osteoporose e artrite atacaram e ela geme de dores por todo o
corpo. Nem a medicação oral estava abrindo a boca para ingerir. Vamos mãe para
o hospital? Ela juntava o pouco de força que tinha e dizia “não” seguido de
“Ai meu Deus” “ai, ai, ai”
Sábado tinha agendado para pregar e cantar na IASD Altinópolis desde
junho no programa do ministério da Mulher através da Drieli Rodrigues; Pensei:
- ou eu desmarco devido ao meu psicológico que não está bem ou vou na força do
Senhor e Ele cuida do que está me angustiando. Fui.
Nossa, nunca vi um mover tão grande do Senhor. Até crianças chegaram
perto de mim dizendo que foi tudo muito lindo. Fiquei feliz de ver as ovelhas
do Senhor sendo alimentadas pelo pão do céu.
Dentro do carro vindo embora, meu celular toca, era meu irmão até
então uma pedreira de forte, chorando ao ir ver nossa mãe e constatar o estado
vegetativo de dores que remoía. Meu irmão é muito apegado e dedicado a nossa
mãe. É o único filho que teve; dentre as 4 mulheres vivas.
“Anália, vamos internar a mãe? Ela está sofrendo demais. ” Vamos,
deixa eu chegar em casa e vou para a casa dela e daí tomamos as devidas
providencias.
Quando cheguei a casa de nossa mãe ela estava até com a respiração
fraca, tentei avaliar seu nível de consciência e como não estava correspondendo
a internamos.
O médico disse que segunda-feira irá fazer a hemodiálise nela com
autorização dos filhos, disse que a agua nos pulmões diminuiu, mas ela perdeu
mais peso ainda. E fora a fraqueza. Quanto ao útero ela não aguentaria uma
cirurgia também. E disse para ficarmos preparados para amanhã.
Que dilema terrível. De um lado sua mãe remoendo de dores a caminho da
sepultura não se sabendo o dia e nem a hora, dia 13/06 mesmo o médico lhe deu
duas horas de vida se não fizesse a hemodiálise e ela está aqui entre nós mesmo
com terrível sofrimento. Do outro lado a opção da hemodiálise mesmo que tardia
como possibilidade de estar entre nós se Cristo não retornar pelo menos por
mais uns 5 anos.
Não gostamos de ver sofrendo quem amamos, então decidimos pela
hemodiálise. Deus tem nos fortalecido. Já chorei horrores hoje, mas com
esperança de que o Senhor ouviu nossos clamores e de inúmeras pessoas do bem e
do nosso grupo de oração no zap e fará o que for de melhor para Yraci Calixta
da Silva.
O que pude fazer para ajudar minha mãe eu fiz. Queria que morasse comigo,
mas ela sempre recusava, gosta do cantinho dela. Deus te permitiu me gerar e
agradeço ao Senhor por permitir que a gente se entendesse. Sempre te amarei
enquanto eu viver. E espero um dia te ver feliz se sentindo amada e cuidada
pelo Senhor nos céus para sempre, uma vez que sempre dizia que nunca encontrou
em um marido segurança amizade e amor verdadeiro. Eu a amo mãe. Que Deus faça o
melhor. "AFCP"